A cultura do trabalho extremo e suas terríveis consequências.
O trabalho é um dos principais pilares do modo de funcionamento da nossa atual sociedade. Existem diferentes tipos, formatos e modelos de atuação profissional, além de milhares de ocupações distintas.
Trabalhamos de diferentes formas e em diferentes realidades, mas ainda assim você provavelmente já ouviu alguém dizendo “Estou me matando de tanto trabalhar”, ou falando algo parecido sobre outra pessoa. Talvez você já tenha dito algo do tipo. E isso nos traz alguns questionamentos: ainda que o trabalho traga benefícios, até que ponto nos faz bem?
Existe algum momento em que o ser humano pode, literalmente, “se matar” de tanto trabalho? E a resposta é: sim.
É o que você vai entender ao longo deste texto, em que trataremos muito sobre uma condição extrema conhecida, principalmente no Japão, como Síndrome de Karoshi ou simplesmente “Karoshi”, que, em tradução literal, significa “morrer de tanto trabalhar”.
Síndrome de Karoshi: o que é?
O termo se originou e ficou popularmente conhecido inicialmente no Japão, onde existe uma cultura de trabalho extremo há muitas décadas, especialmente após o fim da Segunda Guerra Mundial.
Os japoneses encontraram no trabalho uma forma de reestruturar o país, havia diferentes incentivos governamentais e isso foi caminhando até a cultura de trabalho extremo que pode levar à morte súbita de uma pessoa devido a rotinas ou períodos de trabalho extremamente desgastantes para o corpo e mente dos trabalhadores, que é o que caracteriza a síndrome.
Para muitos japoneses, a realidade de trabalhar 14 horas por dia, por exemplo, é algo normal. Isso sem contar as horas de deslocamento. De acordo com a BBC, uma das pessoas diagnosticadas com a Síndrome de Karoshi no país trabalhava cerca de 15 horas por dia, e encarava uma rotina de até 4 horas por dia no transporte público japonês.
Centenas de pessoas falecem anualmente no Japão de forma súbita, no trabalho ou logo após chegarem em casa, por vezes até durante o banho, mesmo que anteriormente não apresentassem nenhum sinal de desajuste corporal ou em sua saúde. Posteriormente, vem o laudo médico de que foram acometidos pela “Síndrome de Karoshi”. Isso porque a doença desencadeia, na grande maioria dos casos, AVCs ou ataques cardíacos repentinos.
Além disso, existem diversos casos de suicídios que se enquadram, de acordo com profissionais na área, como síndrome de Karoshi, tendo em vista que também foram motivados por jornadas de trabalho exaustivas.
O impacto das culturas
Como dissemos anteriormente, o termo Karoshi é conhecido principalmente no Japão. Além dele, há uma definição chinesa similar – o Guolaosi, que também caracteriza mortes por exaustão devida ao excesso de trabalho. A grande semelhança entre todos esses termos é o impacto da cultura e a forma como as pessoas veem o trabalho.
Há séculos, ambos os países constituíram culturas que valorizam a educação, o trabalho e a resiliência. Por mais que inicialmente não haja nenhum problema nisso, existem riscos que podem surgir como consequência da aplicação excessiva desses princípios. Por exemplo, no Japão existe o princípio do gaman, que consiste em “suportar com paciência e dignidade” até mesmo situações que parecem “insuportáveis”.
Os riscos que envolvem essa cultura estão principalmente relacionados à visão negativa tanto da própria pessoa em relação a si mesma, como a visão social implicada sobre ela, caso ela decida, por exemplo, deixar o emprego que a faz mal. Além disso, existe uma vergonha muito grande quando um jovem é demitido, por exemplo.
Podemos achar isso absurdo, mas o fato é que as culturas são questões muito intrínsecas, tanto nos países, como nas organizações.
Por isso é tão importante definir e rever a cultura organizacional, para que exista consciência e controle dos impactos que podem ser gerados. Afinal, culturas, sejam elas quais forem, afetam diretamente a vida das pessoas que se envolvem nelas.
Pode acontecer na minha empresa no Brasil?
Até agora falamos muito do Japão, mas será que isso seria possível de acontecer no nosso país? Afinal, temos um limite de horas que podem ser trabalhadas na legislação, então deveríamos ser “imunes” à síndrome de Karoshi, certo?
Errado.
Ainda que no Brasil a carga horária máxima permitida para os trabalhadores seja de 44h semanais, a qualidade do trabalho deve ser revista e bem pensada. Até mesmo porque, no Japão, país que mais citamos até agora, as leis trabalhistas estabelecem que o regime normal de trabalho é de 8h por dia e até 40h semanais; no entanto, os trabalhadores podem fazer até 45 horas extras mensais, já que recebem por hora de trabalho. Inclusive, essa limitação foi uma medida tomada pelo governo nos últimos anos, já que muitas pessoas faziam mais de 80h extras no trabalho.
Por isso, somente olhar para a legislação não responde a todas essas questões. No contexto brasileiro, outros fatores podem e devem ser analisados para que estejamos atentos à qualidade de vida dos colaboradores nas empresas.
Quando o ambiente de trabalho não é adequado, não tem as garantias essenciais aos trabalhadores, é possível que as pessoas recorram às “horas extras”, o que, se feito de modo constante, gera uma carga de estresse intensa, um nível de bem-estar quase nulo e dessa forma pode danificar a saúde dos colaboradores. Gerando inclusive constantes episódios de um termo que tem se tornado bem conhecido no Brasil: o burnout, caracterizado agora como doença ligada ao trabalho.
Não é só o extremo que merece atenção
É importante lembrar que, ainda que os trabalhadores da sua empresa não cheguem ao nível de tirarem as suas vidas, ou perdê-las subitamente devido ao desgaste no trabalho que gera a síndrome de Karoshi, isso não significa que as condições de trabalho sejam as ideais.
Isso porque, como citamos antes, o bem-estar no trabalho vai muito além de garantir que alguém não “morra de tanto trabalhar”. Na verdade, isso não deveria nem ser uma possibilidade a se considerar.
Empresas que negligenciam a qualidade de vida de seus funcionários abrem portas para que essas pessoas sejam acometidas por diferentes quadros de saúde, como:
- Ansiedade;
- Estresse;
- Depressão;
- E a síndrome de burnout.
Além de possibilitar o desencadeamento da síndrome de Karoshi e outras condições graves no ambiente de trabalho.
E nós não estamos exagerando!
Nós passamos, em média, um terço da maioria dos nossos dias trabalhando. Isso sem contar os períodos de transporte público e das “horas extras” que fazem parte da vida de tantas pessoas. Passar todo esse tempo em um ambiente tóxico e que nos faz mal, é algo muito desgastante e que nos afeta de diferentes formas.
O segredo do sucesso é cada vez mais trabalho?
E se apesar de tudo o que foi trazido neste artigo, ainda houver alguma crença de que essa quantidade de trabalho exaustiva pode render alguns “frutos positivos”, viemos desmistificar isso.
O próprio Japão tem enfrentado, especialmente nos últimos anos, diversas crises econômicas e crescimento do número de empresas que declararam falência. Claramente, essa realidade vivida pelo país envolve diferentes fatores, no entanto, o aumento da jornada de trabalho não é a resposta para solucionar tais problemas. De acorodo com dados divulgados pela EXAME, dentre os trabalhadores do país, 70% declararam já ter sido acometidos pela Síndrome de Burnout.
Além disso, o bem-estar no ambiente de trabalho tem relação direta com a produtividade dos colaboradores. Uma pesquisa realizada na Universidade da Califórnia identificou que os trabalhadores felizes e com bem-estar elevado no ambiente de trabalho, são cerca de 31% mais produtivos, três vezes mais criativos, e, nos cargos que envolviam vendas, vendiam cerca de 37% a mais.
E como melhorar essa realidade na minha empresa?
Agora que você já entendeu a importância de proporcionar um ambiente de trabalho saudável e os benefícios que isso pode trazer, é importante entender como aplicar.
Fazer uma reformulação no ambiente de trabalho pode ser uma tarefa difícil, especialmente porque normalmente envolve muitas pessoas para sua realização. No entanto, é importante começar escutando as pessoas que trabalham na empresa, para entender como tem sido a vivência delas, suas percepções e necessidades dentro do ambiente de trabalho. A partir daí, é possível olhar o cenário que se tem e estabelecer ações prioritárias de melhorias.
O bem-estar corporativo, que proporciona engajamento e melhorias, traz consigo diferentes temas como: o solucionamento de problemas relacionados à comunicação interna, alinhamentos de identificação com a cultura e o funcionamento empresarial, inclusão e diversidade, dentre outros.
Diante disso, entendemos que é um processo e que, muitas vezes, pode não ser tão claro para a liderança.
Por isso, se a sua empresa precisa de ajuda para obter os resultados que deseja, melhorias em todos os campos citados e muitos outros, além de obter ganhos em diferentes cenários, é só entrar em contato com a gente aqui da Santo Caos.
O nosso objetivo é proporcionar engajamento e melhorias internas para cada uma das mais de 100 empresas que já atendemos em todo o Brasil.
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